quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MOSTRA: As Mulheres de Fassbinder

O cinema de Fassbinder  tem alma!  A alma do próprio artista, Fassbinder, e a alma de toda uma nação, a Alemanha!


Cena de "Bolwieser", filme que abrirá a Mostra.
Fassbinder e a atriz Rosel Zech no filme "Veronika Vöss".

Enfant terrible do cinema alemão, homossexual assumido, Rainer Werner Fassbinder carrega para suas obras, segundo ele mesmo, uma sensação de deslocamento que beira o desespero e o isolamento completo. Não cai, porém, no clichê do cineasta gay; suas obras nunca tiveram os temas focados na homossexualidade, embora possuam, como ele já afirmou, uma “sensibilidade homossexual”.

Máscaras são levantadas por seus complexos personagens que parecem não ter lugar para assumir suas verdadeiras identidades. Foram tantas as jornadas que Fassbinder promoveu no decorrer de seus mais de 40 filmes, construídos ao longo de curtos 14 anos de carreira. Ele filmava o equivalente a uma obra a cada 100 dias!

Gênio criativo, produzia com fervor e espontaneidade. Era grande fã do alemão radicado nos Estados Unidos, Douglas Sirk, um papa do melodrama dos anos 50. Observando e subvertendo o “grande mestre”, desenvolveu um estilo  atrevido, debochado, elegante e inteligentíssimo. Decidiu pela amenização do sentimentalismo e uma estilização mais fria do gênero melodramático; o seu propósito, segundo suas próprias palavras, era o de criar filmes “como os de Hollywood, porém sem a hipocrisia”.

Cena de "Maria Braun", o mais premiado filme do diretor.
Fassbinder nunca foi uma unanimidade enquanto estava vivo, e talvez depois de sua morte também não. Faleceu aos 36 anos por uma overdose de cocaína, ainda hoje questionada enquanto suicídio. Fassbinder filmou seu país exaustivamente, abordando culturalmente, socialmente, geograficamente, e mesmo psicanaliticamente. Ele deitou a Alemanha em um divã e extraiu, através de sua análise, obras que até hoje os críticos consideram importantíssimas para a compreensão da sociedade alemã do pré e pós II Guerra. Fassbinder também tentava encontrar sua identidade, ou afirmá-la.  Mantinha relações explosivas e pessoais com seus atores, muitos deles  sendo seus amantes na vida fora das telas, e alguns deles ainda, levados à loucura pelo turbilhão do homem que não descansava. Assistir aos filmes do diretor é quase assistir uma biografia, com personagens reais.

Fassbinder adorava espelhos, amava os reflexos, e seus personagens eram os reflexos perfeitos para seus temas, para a Alemanha e para o próprio Fassbinder.

Cena de "Lola", último filme da Trilogia das Mulheres.
Nesta mostra realizada entre o Cineclube Projeção e Cine Ideário, exibiremos quatro filmes do genial realizador alemão, buscando paralelos em sua obra. Os quatro filmes que serão exibidos situam-se em quatro momentos diferentes da Alemanha do século XX, partindo da conturbada República de Weimar aos delírios do plano Marshal nos anos 50. Em meio a isto, tem espaço a história de 4 mulheres, vivendo em momentos distintos, com seus dramas pessoais que muito se ligam à própria condição da Alemanha. Não são, no entanto, um retorno a um momento histórico, mas sim, uma visão dura e crítica do diretor sobre a sociedade do momento da própria realização dos filmes. Estamos falando da Alemanha dos anos 70 e 80, momento de conservadores no poder, de “terroristas”, de movimentos de esquerda nas ruas. A Alemanha encontra-se dividida sob, de um lado, um modelo de doutrina comunista e, de outro, sob o julgo do capital internacional. É partindo dessa realidade que Fassbinder exibe o drama dos carros motores da economia alemã do pós-guerra: As mulheres.

Nunca um reflexo foi tão belo e cruel.

Informações das Sessões:
Dia 13 (quinta-feira) - "Bolwieser" (1977), 18:30h, no Ideário.
Dia 15 (sábado) - "O Casamento de Maria Braun" (1979), 18h, no sebo Dialética.
Dia 20 (quinta-feira) - " O Desespero de Veronika Voss" (1982), 18:30h, no Ideário.
Dia 22 (sábado) - "Lola" (1981),18h, no sebo Dialética.

ENTRADA FRANCA!




Endereço:
Cine Ideário: Rua Gerson Wanderley, 410, Cruz das Almas
Sebo Dialética: Rua do Uruguai, nº 110, Jaraguá (próximo ao Emilia Clark na rua da Capitania dos Portos).